Assistindo a uma entrevista conduzida por Nicholas Thompson, CEO da The Atlantic, algo me pegou de surpresa. O convidado era seu sobrinho de 12 anos, Emmett. Sim, doze. Mas completamente fluente no mundo da inteligência artificial.
Quando perguntado qual modelo de IA preferia, Emmett respondeu: Claude. Por quê? “ Porque ele é gentil… e tem um tom mais acadêmico.” Essa resposta — simples, mas absurdamente lúcida — ficou na minha cabeça.

Mas foi outra parte que me fisgou de verdade: Emmett disse estar “preocupado” com os impactos que a IA pode causar aos humanos. Um ponto sensível, especialmente vindo de alguém que, tecnicamente, ainda nem terminou o ensino fundamental.
Só que à medida que ele desenvolvia o pensamento, a preocupação se transformava em visão. Para Emmett, o futuro ideal é um onde a IA liberta os humanos para fazerem o que amam. Um mundo onde não seremos sobrecarregados, mas ampliados. Um mundo onde a inteligência artificial faz o que é técnico. E o ser humano faz o que é sensível, criativo, essencial.
Foi aí que tudo fez sentido. Estamos no limiar de uma nova Renascença.
Durante a Renascença original, artistas, arquitetos e inventores mergulharam de cabeça nas novas ferramentas da época: perspectiva, anatomia, engenharia, ciência. E o que surgiu dali? Michelangelo, Da Vinci, Brunelleschi, Galileu. Obras e ideias que até hoje sustentam nossa noção de beleza, arte, progresso e humanidade.

Hoje, nossas ferramentas mudaram. Os pincéis se tornaram algoritmos. Os ateliês, linhas de código. Mas a pergunta continua a mesma: quem segura o pincel?
A inteligência artificial pode escrever, compor, projetar. Ela pode prever o próximo passo. Mas ela não sonha com o que ainda não existe. Só o humano faz isso. Só o humano transforma caos em arte. Ruído em ritmo. Intuição em inovação.
O medo de ser substituído é legítimo. Mas talvez, o verdadeiro risco seja outro: desistir de criar antes de entender que o palco ainda é nosso.
A IA vai mudar o mundo? Claro. Já está mudando. Mas a pergunta mais interessante é: e nós, vamos mudar com ela?
Vamos olhar para a história de novo. Quando o tubo de tinta industrial surgiu, disseram que a pintura morreria. Mas então veio Monet. Quando a fotografia desafiou a arte figurativa, disseram que o pincel estava obsoleto. Mas então veio Picasso. Quando os sintetizadores invadiram os estúdios, disseram que a música perderia alma. Mas então nasceu o Daft Punk.

A tecnologia não mata a criatividade. Ela dá superpoderes aos criadores.
Estamos vivendo a mesma encruzilhada — mas com dados, linguagem natural e aprendizado de máquina. Design generativo. Composição algorítmica. Engenharia aumentada. Arte assistida. O que faremos com tudo isso?
A IA entende padrões. Mas o humano cria o inédito. Somos nós que escolhemos o tom, o ritmo, o que importa. Somos nós que damos sentido às ferramentas.
O futuro não será definido por quem calcula mais rápido. Será moldado por quem ousa imaginar diferente. E se uma geração de artistas ergueu catedrais e afrescos com a tecnologia de seu tempo… nós, com IA ao nosso lado, vamos construir o quê?
A resposta, por enquanto, ainda é nossa. Vamos afinando. Criando. Improvisando. Como verdadeiros maestros da nova orquestra criativa do mundo.
Nicholas interview of Emmett: Video
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